Viagem: o charme tradicional de Lyon
Esqueça (por um momento) Paris. A França que se anuncia desde Lyon é acolhedora, interiorana, quase vagarosa. Com mais de 2 milhões de habitantes, a cidade situada nos contrafortes dos Alpes, bem perto da fronteira com a Itália, orgulha-se de preservar suas tradições, algumas milenares, como a tecelagem. E é por causa delas que os viajantes decidem passar por ali e muitas vezes ficar, como atesta a grande quantidade de estrangeiros que escolhem a cidade para viver. “Lyon tem um tamanho que oferece às pessoas o domínio de ruas e avenidas. Sua intensa vida cultural, porém, requer uma vida inteira para ser desvendada”, afirma Marine Guy, do escritório de turismo dessa cidade.
Com uma história que remonta ao Império Romano – e que pode ser conferida nas diferentes ruínas distribuídas por sua colina histórica, da época em que ela era a capital da Gália –, Lyon situa-se entre os rios Ródano e Saône, uma região de fácil acesso a todo o território francês. Por esse motivo, foi um dos principais centros financeiros da Europa desde o fim da Idade Média, atraindo banqueiros e artesãos de todos os tipos. Desde então, sua população vem aprimorando duas atividades principais: a tecelagem e a gastronomia.
É dali e da região da qual a cidade é capital – Rhônes Alps – que saem a maioria dos chefs franceses de renome mundial. O mercado central da cidade, por exemplo, chama-se Paul Bocuse, o cozinheiro mais famoso da França, que mantém ali perto, na vila de Collonges-au-Mont-d'Or, o aclamado Auberge du Pont de Collonges, seu principal restaurante. O rigor estético com que os alimentos são apresentados dentro do mercado, nas pequenas bancas de queijos, frutas e carnes, exemplifica a importância que todos os lyonnaises dão à beleza. Esse apreço também se nota nos milhares de restaurantes populares espalhados pela cidade – são chamados de bouchons, como o celebrado Daniel et Denise, do chef Joseph Viola, que serve pratos clássicos da região, em geral preparados com carne de porco e derivados de leite, em um ambiente informal que lembra uma cantina italiana.
Tudo isso forma um cenário para o deleite de arquitetos, designers e decoradores – ou fãs do assunto – que se deliciam pela cidade enquanto exploram seu maior tesouro: a tecelagem. Há séculos, Lyon concentra a produção de tecidos usados para revestir os móveis de castelos de toda a Europa. Não é de se estranhar que os decoradores dos principais palácios de Paris, Madri ou Estocolmo busquem a cidade para restaurar poltronas Luís XV ou bergères do século 17 nos ateliês familiares espalhados pela Vieux Lyon (ou Velha Lyon).
Nessa área medieval da cidade, com suas vielas estreitas e hotéis-design – como o Cour des Loges, que ocupa quatro palazzi italiani renascentistas –, concentram-se oficinas como a Soieries Saint-Georges, especializada na fabricação artesanal de seda, ou a Ebéniste Vincent Julien, que restaura móveis centenários com as mesmas técnicas de sua produção original. Há muitas outras opções de hospedagem de alto luxo, mas o Château de Bagnols, um castelo do século 13 na região do Beaujolais, e o Villa Florentine, outropalazzo renascentista, além de cinco estrelas, são os mais charmosos.
Lyon é patrimônio mundial da humanidade pela Unesco e guarda tesouros da arquitetura, como a sede de sua Opéra, gloriosamente restaurada por Jean Nouvel, o Museu de Belas Artes, com mais de 7 mil m² de área, ou o Instituto Lumière, ao lado da mansão onde os famosos irmãos fizeram a primeira exibição cinematográfica da história. Enquanto a exploram, os visitantes também se deparam com joalherias onde são criadas peças únicas, ateliês de pintura e escultura e uma infinidade de galerias de arte. Um destino que alimenta os mais exigentes paladares e se destaca no contexto europeu por também alimentar – há séculos – os olhares e tatos mais exigentes do mundo.
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